Arqueólogos amadores são convidados para decifrar papiros

  
Papiro 
Foto: Papiro de Oxirrinco 5072 (século 3 d.C.), Evangelho não-canônico. Cortesia da Sociedade de Exploração do Egito e Imaging Papyri Project, Oxford. Todos os direitos reservados.
Quinta, 28 de julho de 2011
Centenas de milhares de fragmentos de papiros, recuperados há 100 anos em um aterro sanitário seco na antiga cidade egípcia de Oxirrinco, atual El-Bahnasa, foram disponibilizados online na tentativa de obter traduções cooperativas.
Escritos em grego durante um período em que o Egito estava sob o domínio de uma classe de colonizadores gregos (e depois romanos), os textos formam uma grande variedade de documentos, de obras literárias a cartas, receitas e até boatos.
Uma janela fascinante para a vida no mundo antigo, as imagens representam uma tarefa monumental: embora vestígios dos pergaminhos tenham sido descobertos em 1896, estudiosos só conseguiram decifrar 2% do texto até agora. Muitos papiros não são lidos há mais de mil anos.
"Pensamos que estava na hora de pedir ajuda", afirmou o líder do projeto, Chris Lintott, do Departamento de Física da Universidade de Oxford.
Trabalhando em colaboração com papirologistas da universidade e a Sociedade de Exploração do Egito, a equipe de Lintott lançou o website Ancient Lives (Vidas Antigas), onde arqueólogos amadores podem ajudar a catalogar e traduzir os antigos manuscritos.
Embora a frase “isso parece grego” pareça se ajustar perfeitamente ao projeto, não é necessário ter conhecer a língua.
Os visitantes do site Ancient Lives são expostos a uma imagem de um fragmento. Podem então clicar em uma letra na imagem e então no que acreditam ser a letra grega correspondente em um teclado, localizado abaixo.
Como fragmentos não-traduzidos aparecem no website, ferramentas de reconhecimento de caracteres ajudarão as pessoas a associar caracteres a símbolos. Uma vez que os caracteres tenham sido transliterados, o computador verifica se o manuscrito foi traduzido por um acadêmico ou não. Se não, é então enviado aos estudiosos para novas análises.
Os pesquisadores já descobriram fragmentos de um evangelho anterior desconhecido, dado como “perdido”, que descreve Jesus exorcizando demônios; novas cartas do filósofo Epicuro; vários diálogos de Platão; um papiro do filósofo e poeta Empédocles sobre a anatomia do olho; a peça perdida de Eurípides, Melanippe, o SábioMisoumenos, obra do escritor de comédias grego Menander, e várias peças de Aristófanes.
Entre papéis privados e pessoais, descobrimos por meio desses papiros que Aurelius, o salsicheiro, havia pedido um empréstimo de 9.000 denares de prata, talvez para expandir seu negócio. Em outra carta, escrita em 127 d.C., uma avó chamada Sarapias pede que sua filha volte para que possa estar presente no nascimento do neto.
Desde o lançamento do website, na terça, voluntários já transcreveram mais de 100 mil caracteres, segundo o Ancient Lives.
"Esse esforço está impregnado de um espírito de colaboração”, afirmou o diretor do projeto, Dirk Obbink, palestrante de Papirologia e Literatura Grega da Universidade de Oxford.
"Sozinho, nenhum par de olhos pode ver e ler tudo. De cientistas a professores, de alunos a amantes da antiguidade, todos têm algo a contribuir – e a ganhar”, disse Obbink

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