Dachau: Campo de Concentração Nazista

Dachau: Campo de Concentração Nazista


Cerca de 20 km do centro de Munich (Alemanha) se encontra a pequena cidade de Dachau. Ainda que seja um lugar tranquilo, os moradores de Dachau têm que viver sobre o estigma  de serem lembrados como os habitantes da cidade que abrigou o primeiro campo de concentração nazista.

Em 1933, já sobre o domínio de Hitler, o campo de concentração de Dachau servia como presídio para todos aqueles que o Reich tinha como inimigo. E a lista era grande. Em 1941, o campo passou, definitivamente, de presídio a “abatedouro”.

Hoje, o lugar é um “museu do terror”, onde turistas podem visitar sem pagar nada, a fim de ver de perto as monstruosidades que lá foram realizadas. Como sou interessado por tudo que tenha a ver com o holocausto, inclusive já fiz um postsobre o assunto indicando filmes essenciais para entender a questão, não pude deixar de conhecer o Campo de Dachau quando estive há alguns meses em Munique. Tentarei relatar a experiência de conhecer o campo e também passar algumas informações pouco difundidas.

Logo na entrada, a primeira coisa que chama a atenção, é a frase disposta no portão: “Arbeit Macht Frei”, que significa: “O Trabalho Liberta”. Esta frase está presente na entrada de todos os Campos de Concentração, isto porque, além de dar a ideia de que os prisioneiros serão úteis ao governo, também, no período da guerra, servia para passar uma imagem menos mortal dos Campos.

"O Trabalho Liberta".
Atualmente, o Campo de Dachau é cheio de memoriais, monumentos que homenageiam os que lá morreram. Estima-se que somente no período da Segunda Guerra, foram mais de 30 mil mortos. Sendo que ao total, contando desde o ano de inauguração (1933) até o de fechamento  (1945), foram cerca de 200 mil prisioneiros, entre eles: judeus, mestiços, ciganos, negros, deficientes, homossexuais, Testemunhas de Jeová, criminosos, comunistas, inimigos políticos, padres, bispos, mulheres, crianças... 

Quadro com símbolos de todos os prisioneiros.

Para caber tanta gente, foram construídos 27 pavilhões. Cada grupo tinha seu próprio dormitório, mas não se engane, embora houvesse uma diferença ou outra em relação ao tratamento, no geral, todos sofriam com a rigidez dos agentes da SS.

Pavilhões em 1945.

Hoje.
 Assistindo ao filme “O Nono Dia”, é possível ter uma ideia dessas diferenças entre os grupos. Enquanto os padres recebiam 1 pão para 3 pessoas, os judeus recebiam 1 para 4. A maior diferença estava na taxa de mortalidade. A expectativa de vida do judeu no campo era a menor de todos os grupos. Tanto os trabalhos quanto os castigos mais severos se destinavam a eles.

Vara usada para castigar.

Posição para a surra.

Como a pessoa ficava após a surra.
Já os homossexuais  tinham chances de sobreviver, porém para isto, passavam pela mais terríveis experiências. Em Dachau, era comum o uso de lobotomia cerebral para tentar mudar a sexualidade da pessoa, quando isto ocorria, o sobrevivente passava a ter uma vida vegetativa. Deficientes físicos/mentais também eram usados em experimentos, como em testes de hipotermia, passavam horas dentro de água gelada. Uma das grandes polêmicas no pós-guerra se deu pelo debate: utilizar ou não os resultados das experiências feitas pelos cientistas nazistas?

Teste de hipotermia.
Apesar de quase todos os pavilhões terem sido destruídos após a guerra, dois permaneceram de pé e, em um deles, é possível entrar. Trata-se de um dormitório, o qual fora concebido para 300 prisioneiros, mas que durante a guerra, chegou a abrigar mil. Todos os pavilhões eram superlotados e as condições eram desumanas. Não havia privacidade nem mesmo ao ir ao banheiro, e na hora de comer, muitos ficavam em pé.

Dormitório hoje.

Em tempo de lotação.
 
Lavatório do banheiro.

Privadas.
No verão, Dachau é muito quente para os padrões europeus, e com o trabalho árduo, os prisioneiros tendiam a desidratar mais rápido, o que levava ao óbito. Inclusive, um dos trabalhos no verão, era fazer algo na cidade. Tarefa que os agentes da SS aproveitavam para matar indiscriminadamente justificando (falsamente) que o prisioneiro tentara fugir.

Tudo era motivo para matar. Entre os pavilhões, havia uma enfermaria, mas segundo a informações do áudio guia (o que você pode alugar por 5 euros), a enfermaria servia mais como um local para os médicos terminarem de matar. Pacientes muito debilitados, por exemplo, não recebiam medicação, mas sim, uma injeção letal.  

No inverno, o frio se assomava a fome e a depressão, o que fazia muitos prisioneiros entrarem num estado em que nada mais importava, há não ser morrer. Aos que chegavam neste estágio, segundo Giorgio Agabem (filósofo italiano), eram chamados de “muçulmanos”, pois de tão magros e descoordenados, ficavam apenas com o olhar distante, com a cabeça encostada à algum lugar, como se estivessem orando, mas na realidade, nem sequer pensavam. Anêmicos, fracos para defender sua própria ração e marginalizados pelos outros prisioneiros, a estes só restavam ser assassinados, jogados numa fossa comum junto a outras centenas de cadáveres, ou queimados nos fornos (em alguns casos, eram queimados ainda vivos). Ressaltando que se aproveitava tudo dos corpos; dos cabelos se faziam cordas de barco, colchões; dos ossos faziam porcelana, entre outras utilidades que empresas privadas encontravam.

Pilha de mortos em frente ao crematório principal.
Crematórios.
O desespero de não se chegar a este quadro era tanto, que algumas pessoas se aproximavam, propositalmente, das torres de segurança, as quais eram compostas por soldados com metralhadores que atiravam em quem se aproximasse. Ou então, suicidavam-se agarrando à cerca elétrica.

Torre e cerca elétrica hoje.
Suicida na cerca próxima à torre de segurança.
Os incineradores e a câmera de gás ficavam separados dos pavilhões, ao fundo do Campo. Esta era a parte mais temida pelos presidiários, pois quem ia para lá possivelmente não voltaria. Perto do crematório, havia uma trilha, onde também se davam execuções sumárias. Nos primeiros anos da década de 40, uma febre tifóide elevou tanto os índices de mortalidade, que foi preciso construir uma nova casa de crematório para dar contas dos cadáveres. 

Lugar de execução.
Segundo crematório.
Apesar de haver uma câmera de gás ao lado dos crematórios, o que sugere que ela foi usada, não há provas concretas de que algum prisioneiro tenha morrido “gazeado”. Nos julgamentos de Nuremberg, houve uma testemunha que afirmou que a câmera havia sido utilizada, inclusive a tal testemunha escreveu um livro sobre, no entanto, descobriu-se que o testemunho era falso, então até hoje a dúvida persiste.

Câmera de gás.

Porta de ferro da câmera de gás: "Chuveiro"
Se a câmera foi utilizada ou não, o fato é que entrar nela dá uma sensação das mais aterrorizantes. A porta que a fecha é de aço, o teto é baixo e o ar lá dentro é sufocante. Apenas tirei a foto e sai.

Apesar do cenário forte, o que me deixou bastante pensativo, é que na parte onde fica os crematórios, há uma espécie de flor branca que fica pairando sobre todo o lugar, como se fosse uma chuva de penas de anjos. É algo que emociona ao mesmo tempo em que deixa o clima bastante tenso. A cidade de Dachau é tão assolada por esse clima pesado, que as mulheres grávidas vão ter seus filhos em outras cidades, pois quem nasce em Dachau é considerado amaldiçoado, ou melhor seria dizer, mal visto, como uma sina que o indivíduo teria que levar para toda a vida.

Memorial atrás do crematório. Repare nos "pontos brancos" voando.
"Para Homenagear os Mortos com a Lembrança Viva".
Outros monumentos são a igreja judaica, católica e evangélica, uma ao lado da outra para representar as pessoas dessas religiões que lá foram mortas. Cada uma delas foi construída com a arquitetura típica de suas denominações, com uma pequena observação para a igreja evangélica, a qual é totalmente desforme, para constratar com a organização militar do Campo.  

Templo Judeu.
 
Memorial sobre a união dos prisioneiros.

Sugiro que vá com tempo e calma á Dachau, no prédio principal, há um “cinema” com um documentário sobre o Campo com legenda em vários idiomas, o filme dura 30 minutos e tem cenas muito fortes. É uma boa maneira de começar o tour pelo museu, pois ele lhe prepara para entender cada canto, assim como dá uma noção interessante sobre de como o antissemitismo foi difundido na Alemanha. 

Fotos tiradas por soldados americanos.
O tema do holocausto é indigesto, principalmente, para os próprios alemães, tentei conversar com alguns sobre o assunto e percebi que é algo de que eles não gostam de falar. Mas mesmo assim, a visita ao Campo é um programa “obrigatório” nas escolas alemãs, o que serve como um exemplo alegórico para toda humanidade: por mais vergonhoso que seja, é preciso olhar e nunca esquecer. 

Visão do Campo.

http://www.uziporai.blogspot.com.br/2013/10/dachau-campo-de-concentracao-nazista.html

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